06/12/2013

Ciclo do Natal - 6a. mensagem

E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.   (Miqueias, 5, 2)




A comemoração do natal cristão distingue-se do natal cultural/comercial. Neste, prevalece os votos de paz e saúde, além da distribuição de presentes, secundados pelas ceias fartas.

Está certíssimo desejar paz e saúde aos outros, conhecidos e desconhecidos. Mas a verdadeira, sólida e permanente fonte de paz e saúde advêm não do desejo, mas de uma pessoa Divina, que se fez homem e trouxe ao mundo o caminho para a vitória máxima. 

A mensagem do natal cristão não nos é imposta, não é herdada, não é vendida. Trata-se de uma pessoa, Jesus Cristo, e o que ele veio fazer em nosso favor.

O plano perfeito de Deus não contemplou poder humano, status ou riqueza. Conhecemos a admiração das pessoas por celebridades.  Ao contrário, Deus-Amor planejou tudo para que seu Filho nascesse em plena humildade, desprovido de tudo que fosse atrativo idolátrico.

Antes do nascimento de Jesus, os escritos apontavam para a singeleza, humildade, sem qualquer pompa ou circunstância.  Por exemplo, a cidade de nascimento, Belém, era sem eira nem beira. O local do parto, um estábulo. A família, José e Maria, simples operários do ramo de carpintaria. 

Deus escolheu o cenário simples, distante dos centros de poder.  Jesus não seria admirado pelo seu status, mas crido pelas verdades emanadas da sua boca e pelas ações do seu poder.  Evidências concretas de vidas transformadas, fossem pelo perdão, cura ou libertação espiritual, além de milagres, seriam a razão única e persuasiva para que as pessoas de bem notassem um grande e insólito presente, algo especial, pelo qual entregariam suas vidas.


Empenhe-se pelo natal cristão.

05/12/2013

Ciclo do Natal - 5a. mensagem


Jardim das Oliveiras
Ciclo do Natal

5a. Mensagem

Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.      Lucas 7, 47




 Após a mensagem de ontem, recebi a visita de um querido, intrigado e ansioso para compreender mais. Fomos tomar um café.

-          -   Pastor, não devemos andar nos santos e retos caminhos do Senhor ?
-          -   Sem dúvida.  Isso agrada a Deus.
-        -     Então, porque o seu amigo afirmou que os certinhos não entrarão no Reino dos Céus ?
Dei uma gargalhada. Pedimos o café. Arre, café quente com calor infernal, que mico ?
-          -    Bem, meu caro, aquilo foi uma ilustração. Deixe-me explicar:  O problema  de sempre está no fato de acharmos que pelo nosso esforço obtemos a graça de Deus.     -   Quando o esforço é objeto de admiração, auto-premiação, até mesmo culto, incorremos no erro maligno da auto-salvação.
-         -    Hum, hum, explique mais, por favor.
-          -   Ok, isso quer dizer o seguinte: quanto mais conhecemos profundamente a nós mesmos, mais reconhecemos a necessidade da misericórdia do Senhor, da presença mansa e suave de Deus.  Conhecendo, principalmente, nossas omissões, entendemos nosso impulso para dirigir exclusiva e unilateralmente as nossas vidas.
-       Isso revela, então, nossa tendência ao egoísmo ?
-          -   De certo, claro. Homens certinhos e perfeitos, segundo a avaliação deles, falam de Deus, mas não precisam dEle. Se não precisam, têm pouca experiência com o Salvador, porque, na verdade, acham que podem produzir a própria salvação.  Eles não dizem isso, mas suas ações denotam isso.
-          -   Continue, pastor, estou gostando.
-          -   Pessoas certinhas e perfeitas não têm motivos (segundo elas) para pedir perdão. Alguns acham até que não pecam, apenas apontam os pecados dos outros. Se a pessoa acha que não erra, como pode reconhecer a necessidade do perdão de Deus ?
-          -   Faz sentido.
-          -    Está registrado nos evangelhos. Jesus é a prova disso.  Ele procurou pessoas vulneráveis, fragilizadas, imperfeitas, pecadoras, porque ele as queria restaurar, salvar, estabelecer uma experiência duradoura de fidelidade. Quem achava que dominava tudo, sabia sobre tudo, com religiosidade impecável, não abriu o coração para conhecer e ser tocado pelo Salvador. Os que sabiam quem eram, de fato, entregaram tudo a ele. Uma grande ilustração está na história da mulher que ungiu os pés de Jesus (Lucas 7, 36-50). Por favor, leia a passagem.

Naquele momento, meu horário terminara. Precisa ir ao oftalmologista. Antes de sair, conclui:

-          -    Anterior a qualquer esforço de perfeição, olhe para Jesus na cruz. Olhe até entender e receber o significado daquilo.  Quando você entende e aceita com todo o seu ser, o esforço quanto a andar no caminho santo e reto será consequência agradável, jamais instrumento para obter o favor de Deus. Aceitar o que Ele fez na cruz por você, repito, por você, no seu lugar, é a chave para tudo. Entendeu ?  Para isso, por isso, Jesus nasceu! O natal é o início dessa maravilhosa jornada.

04/12/2013

4a. mensagem de natal


Jardim das Oliveiras
Ciclo do Natal

4a. Mensagem

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:  Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim ...
Isaías 9, 6-7

Federico Barucci, 1590

Estávamos albergados na bucólica varanda, entre plantas e passarinhos, bem no início de uma tarde ensolarada, clima ameno, montanhas ao longo, conversa mansa, arrastada, típica dos nativos das alterosas. Entre nós, sobre a mesa, crocantes torresminhos, sucos, cervejinha e até uma douradinha e sedosa pinga do norte de Minas. Os hilários papos-furados corriam soltos, enquanto esperávamos a preguiçosa lenha queimar devagarinho sob panelas de barro que aconchegavam a especialidade mineira, tesouro de todos os tempos, ponto culminante do nosso encontro, o insuperável frango com ora-pro-nobis e angu.

De repente, um dos comensais disparou: “Em verdade, em verdade eu digo, todo certinho não entra no reino dos céus”, e deu um baita tapa na mesa, elevando alguns milímetros os utensílios.  Gargalhada geral. Cada um tomou sua dose de bebida. O abusadinho virou a pinga, os torresmos acabaram. Pedimos ao garçon calabresa apimentada com cebola e pimenta biquinho. Os ânimos foram dando lugar ao silêncio. Alguém emendou: “Que teologia de botequim é essa, sô ?”

Aquele cabra metralhou-nos. Com a simplicidade característica dos que contemplam montanhas, decodificou sua afirmação.

“Os certinhos são aqueles que sabem tudo. Gostam de acusar, ver defeitos nos outros, corrigir gregos e troianos. Apresentam-se em público, ridiculamente, com a máscara da impecabilidade. São mestres nos versículos e procuram o pódio. Quem não os conhece por dentro, rendem-se por admirá-los.”

Então, em meio ao silêncio dos compadres, ele enfatizou: “Não precisam da Graça de Deus; pecaminosamente, constroem a ilusão da sua própria ideia de graça. Não precisam das misericórdias do Pai Amado, porque os outros é que erram.  Discorrendo a doutrina, são réus confessos; a sisudez explícita da face, a vara verborrágica pronta para ser usada por todos os lados, a impossibilidade de amar sem nada em troca, tudo isso, denuncia a verdadeira raíz. Querem ser deuses, na verdade.”

Olhando nos nossos olhos, numa ousadia que eu nunca vira nele, encetou: “Jesus não disse que viera para os doentes, os perdidos ? Paulo, em meio a lutas e súplicas, não recebeu do Senhor o pedido de dependência dEle (A minha Graça de basta”) ? A palavra forte do evangelho não é arrependimento ?”

Nós, os famintos, pensávamos. De quem ele estaria falando ? 

Estávamos no mês de dezembro, mês de Advento, talvez mês inspirador para o nosso intérprete Bíblico. E ele destrancou o segredo da sua afirmação: “Estava lendo o profeta Isaías, quando deparei-me com um dos nomes do Senhor Jesus: Maravilhoso Conselheiro. Uai, sô, somente encharcado de humildade podemos reconhecer a necessidade de Conselheiro. Somente o Conselho Divino pode restaurar-nos e orientar-nos, afinal, a carne é fraca, o coração do homem é corrupto, e até o apóstolo entendeu que, quando ele era fraco, reconheceria a dependência e conselho de Deus, tornando-se forte, justamente dos conselhos e bênçãos emanadas do Pai. Jesus veio para isso (Advento) e somos os imerecidos agraciados pela bondade incansável dEle.”  

E logo, indo direto ao ponto, entregou-nos a apoteose: “Quem não examina a si mesmo, diante do Deus Santo e Irrepreensível, não tem fome da Graça que desce do céu.”

“Uau!”, sussurrou um. “Grande!, disse outro. “Verdade!”, disse o que bebia suco.

Coincidentemente ou não, os garçons chegaram com as panelas, o perfume dos condimentos preencheram o lugar. 

Não tenho dúvida até hoje, aquele foi um almoço santificado, cheio da graça do Senhor, porque nós, pecadores confessos, degustamos dois banquetes: O Maravilhoso Conselheiro nasceu por e para nós, perdidinhos; e o frango, ai o frango...



03/12/2013

Natal - 3a. mensagem




Jardim das Oliveiras
Ciclo do Natal 
3a. Mensagem


Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emmanuel.
Is 7, 14

Nicolas Poussin


        Sentadinho no degrau da loja, sem incomodar, indiferente às “formiguinhas humanas”, que passavam apressadas, o menino, talvez com 7 anos, vendia panos para limpeza doméstica.  Como os outros transeuntes, passei, subindo a rua, apressado, mas a cena capturou-me, laçou-me, enredou-me. Adiante, minha memória recentíssima espetava-me e já não podia pensar em outra coisa. A face doce, frágil, pequena e necessitada do infante latejava em minha mente, incomodando-me. Não durou minutos, tomou-me, avassaladoramente, sem pedir licença, as recordações do menino Jesus. Decidi que, quando voltasse pela mesma calçada, não evitaria a face do Senhor, estampada no mirradinho.

***

Encostada no muro do colégio, cuja mensalidade ultrapassa a média salarial do país, beirando os 14 anos, vociferava palavrões, entre tragadas da maldita fumaça tabagiana. A falsa imagem era de poder e liderança. Passei os olhos sobre o grupo, fixei-os sobre a criança precoce e com nitidez discerni a evidente fragilidade. Batizei-a, silenciosamente, com o nome de Carência da Silva.

***

Dois dias distintos, duas crianças com histórias opostas, duas iniciantes vidas sob a mesma perspectiva Bíblica: pobre ou rico, carecem da presença de Deus.

Então, a conclusão rodeou-me: toda a criança nasce à imagem e semelhança de Deus. Deveriam ser acariciadas por Deus. A jornada dos pequeninos deveria ser pavimentada de oportunidades para conhecer o Criador.
Talvez por isso que o profeta entregou ao mundo a vontade do Pai: O nome do meu Filho será Emanuel – que significa Deus Conosco. 

Sabemos, aceitamos, cremos, não duvidamos, mas a endêmica doença chamada indiferença teima em nos possuir.  Como vírus/bactéria oportunista, aloja-se em nosso ser, resistindo e fortalecendo-se por meio de mutações.  Mas os meninos estão lá, nas ruas, escolas, residências, redes sociais, parques e também nos lugares mais podres, seja nos barracos ou nas suítes.

Proponho um exercício: nesta natal, olhe para cada criança, batizando-a silenciosamente em seu coração com o nome (ou apelido) de Emanuel – Deus conosco. Afinal, estamos aqui para isso, não ?