04/04/2006

Os Profetas Estão Calados.

Eles estão calados. Como calados ? Há muita matéria sobre a qual eles podem se debruçar, analisar e gritar. Os profetas não gritam pela causa própria. São arautos. Anunciam o que vem para eles da parte do Inspirador. Na Bíblia, o Senhor lhes dizia que o povo (e sobretudo os governantes) não estavam andando nos seus estatutos e caminhos. O Senhor precisava de vozes humanas, que gritassem, que fossem corajosas, que acreditassem na revelação do alto.

Há décadas a Igreja cristã, principalmente sua ala dita progressista, juntou-se aos movimentos populares e aos partidos de esquerda, acreditando que um outro mundo seria possível. Em verso e prosa profetizaram contra as injustiças, as perseguições, as opressões e contra toda mentira. E estavam certos.

Mas quando chegou ao poder o símbolo máximo da direção rumo ao outro possível mundo, o que vemos é o aprofundamento da mesma substância atacada outrora. São da mesma natureza, só que em grau maior de degradação. Acusavam o outro daquilo que (camufladamente) estavam transbordando.

O que vemos ao nosso redor é a mais nítida tradução da falta de qualquer princípio cristão, a falta de qualquer valor transmitido durante séculos pela nossa tradição. Ã mentira está exposta sem nenhum pudor, em todas as áreas, em todas as mentes.

Neste contexto que se repete na história, e não é difícil constatar, mas é necessário conhecer e ser honesto para assumir o que se apreende, a Igreja segue calada (tavez por vergonha, impotência, conivência ideológica sinistra ou por não ter a mínima idéia do que está acontecendo). Novamente, para realçar, não sei se perplexa, não sei se covarde, não sei se conivente, porque partilha os mesmo não-valores, a mesma amoralidade.

E os profetas estão calados, estão covardes. Talvez porque amem tanto a revolução, talvez porque a Palavra profética seja apenas instrumento de camuflagem, talvez porque suas mentes que não se adequam ao proposto por Paulo em Romanos 12, porque talvez nunca tenham sido profetas, mas cegos que guiam cegos.

E os profetas nada falam sobre mentiras, sobre corrupção, sobre invasões de bandidos que saqueiam e quebram, no campo e na cidade, nada falam sobre aborto, sobre ... sobre .... sobre ...

Profetas calados não são profetas, são covardes, são medíocres.

Kyrie Eleison !

21/02/2006

GILEAD


Eu li e gostei muito. Você deve comprar e ler Gilead, de Marilynne Robinson, editora Nova Fronteira, R$ 34,90.
Trata-se de uma raridade nas gôndolas das livrarias. Raramente você encontra um livro com temática protestante. Este livro aborda as memórias de um idoso pastor protestante, que está escrevendo para seu filho de sete anos.
Uma boa opção aos Da Vinci que correm soltos e inundam nossas livrarias.
Boa leitura!

18/02/2006

Jazz imperdível

Eu gosto no início da noite. Ouço para relaxar, encantar-me com as criações, variações, com a vibração e, tantas vezes, com a alma do executor aflorando, exprimindo seu sentimento mais melancólico, investigativo ou interrogativo. Jazz, já diziam os entendidos, ou melhor, os "chupadores" dessa arte, é a verbalização musical do que está em efervescência nas entranhas do artista. Os jazzistas são poetas da alma.
Pena que muitos foram se perdendo ao longo da estrada, sobretudo as cantoras. Muitas começaram em suas igrejas protestantes, especialmente as batistas ou as classificadas como livres. Cantavam em corais, faziam solos, coisas bem da nossa tradição. Mas, na estrada dos incrédulos, corromperam-se, entregando-se à bebida, drogas e parcerias conjugais múltiplas.

Deixo uma dica imperdível: o encontro de dois virtuoses do jazz. Trata-se do disco
Thelonious Monk Quartet with John Coltrane at Carnegie Hall.

Este encontro dos dois em 1957 fez história. Procurem nas melhores lojas do ramo.

Paz e Alegria para todos.

17/02/2006

Almas Vazias em Brokeback Mountain


“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2,1)

Para qualquer questão da vida, formulamos juízos de acordo com os valores e crenças que dão suporte à nossa visão de mundo (cosmovisão). O demonstrativo cotidiano do mundo ocidental evidencia um total esvaziamento dos valores tão caros à nossa formação. As mudanças rápidas, as avalanches de novas idéias e a pulverização do que críamos, tornam o mundo em que vivemos um terreno fértil para “o que não sabemos em que vai dar.”
Está em curso, desde o início da 2ª metade do século passado, um movimento cultural que solapa nossas caras heranças judaico-cristãs, incutindo de gota em gota, usando todos os recursos de comunicação disponíveis, a crença na pluralidade, no multiculturalismo, no politicamente correto, no acolhimento de qualquer tendência sem a aplicação de critérios. O resultado é que junto com a água do banho, o nenê vai junto para a lama. Vamos acordar ?
Há um filme em cartaz, O Segredo de Brokeback Mountain, (provável ganhador de oscars, não duvide) que é celebrado pela história de “amor” homosexual entre dois caubóis americanos, nos idos dos 60.
Fui ver o filme. Está embutido o movimento (inteligentíssimo) internacional organizado, que atua em todas as frentes, para exportar a causa “natural” do homosexualismo (o mesmo para o filme Tudo Em Família). Tenho o direito inalienável de não ser preconceituoso, e sim conceituoso, e por isso não achar natural, baseado no meu fundamento de vida: a Palavra de Deus (I Co 6,9-10; I Tm 1,10 etc).
Mas na montanha Brokeback eu vi outra coisa. Vi a metáfora do vazio humano, da falência de uma sociedade ocidental que começou cristã e tinha os olhos bem abertos e alegres nos seus valores.
Jack Twist e Ennio Del Mar, dois caubóis destruídos espiritual e emocionalmente, foram contratados para pastorear ovelhas nas montanhas do Wyoming, EUA. Fracassaram profissionalmente, fracassaram existencialmente. Foram sugados pela solidão nas montanhas, palco para a inevitável exposição das vísceras emocionais.
Ali, no vazio do dia, e nas insuportáveis noites, conviviam com o lixo: de suas infâncias, de suas comidas, de seus futuros, e do incômodo daquilo que nem eles sabiam. Eram iguais e solidários no deserto de suas vidas. Juntaram os cacos, porque já não suportavam a própria imagem em qualquer espelho d´água. O ponto revelador do “saara espiritual” revelou-se na total ignorância do significado do Pentecoste cristão. A tradição metodista dos familiares para nada serviu. A falta da religião cava um fosso profundo para o nada.
Não conseguiram ser pastores de ovelhas (elas berravam desprotegidas e eram comidas pelas feras); ao contrário, igualaram-se a elas, e mesmo sem o saber, ansiavam pelos pastores de suas almas.
Não importa se na deslumbrante montanha, se no cabaré mexicano (por onde passou um deles) ou se na sala de estar de uma família ordinária, quando a alma está vazia, está propensa a buscas desesperadas por significado, por alimento que nutra a condição insuportável. Então, agarra-se ao que se encontra. E, para desgraça, pode ser a bebida, a mentira, o auto-engano, a violência que destrói cônjuges inocentes ou o equivoco de um “amor” que não era para ser. Um caubói acabou morto a pauladas. O outro acabou, provavelmente, afogado na bebida, sugado pela angústia, negando os apelos da família para ir à Igreja.
No conto que originou o filme, de Annie Proulx, o caubói diz que eles “teriam que agüentar o que não podiam consertar”. Ledo engano, e aqui entra a leitura cristã: nada é impossível para Deus. A condição de nascer de novo (espiritualmente) é o verdadeiro encontro para o qual todos nós nascemos: glória de Deus e satisfação pessoal.
Devemos assistir O Segredo de Brokeback Mountain ? Sim, para acrescentar ao seu entendimento que o vazio que habita o coração humano não escolhe paisagem, está presente na paradisíaca montanha ou na miséria de algum barraco. O mundo pode não suportar tal entendimento, tal enfrentamento, mas o vazio só terminará quando JESUS subir a montanha Brokeback, indo ao encontro das ovelhas sem pastor.