10/02/2007

O Delicioso Grego

Turista ou viajante, matar a fome ou experiência gastronômica, coca-cola ou Casillero del diablo, café “carioca” ou um curto do Santo Grão. Certas experiências são separadas por um abismo, mesmo em se tratando de uma mesma categoria ou necessidade. Turista quer dizer que foi lá, volta com sacolas; viajante conhece o lugar, torna-se parceiro e acionista dos registros e arquiteturas que fizeram história. Turista não se importa, viajante pinça o melhor. Coca-cola é fast; Casillero pede ritual, quer ser apreciado, cheirado, rodado e suplica para descer goela abaixo devagar, ouvidor e cúmplice de boas conversas.

Eu passeava lá pelas bandas do Bom Retiro, entre roupas, judeus e coreanos, quando lembrei-me de um restaurante na conta dos bons e confiáveis, de cozinha grega. Enveredei-me pela rua da Graça, endereço do Grego. Num escaninho da memória eu guardei uma reportagem enaltecendo aquele pequeno e típico restaurante, citado em jornais, revistas e livro.

O restaurante Acrópolis tem peculiaridade: não tem cardápio. Você vai até a cozinha e entre tabuleiros você escola ou é assessorado pelas melhores combinações. Eu estava pronto e ansioso para um momento de descoberta: ali estavam nas paredes as fotos das belíssimas paisagens gregas, as referências da crítica, e não faltou a tradicional música das ilhas.

Diante dos cheiros que pulavam das panelas e torturavam minha sensibilidade olfativa, eu só podia escolher no máximo duas especialidades, pois seria impossível experimentar mais, a generosidade das porções era fator limitante. Escolhi a famosa musaka e o carneiro com fundo de alcachofra e batatas, embebido no molho que sobressaia o alecrim.

Chamei pelo jovial e simpático Trasso, o propietário, que dos seus quase noventa anos comanda a orquestra gastranômica do pequeno Grego. Eu precisava elogiar. Elogiei efusivamente, dizendo-lhe que eu cometera um pecado: almoçar sozinho. Bem que tentei telefonar para um amigo, que, trabalhando, não atendeu.

A experiência no Acrópolis precisa ser vivenciada por grupo. Leve sua família, amigos e sirva-se das diversas opções, fazendo com que cada um deguste pequenas e divinas porções. Já avisei ao Sr. Trasso que da próxima vez, com família e/ou amigos, não me escapam a vitela e os camarões, precedidos da viva e fresca salada grega.

Duas ou três recomendações: estacione o carro longe do restaurante, lá pelas cercanias do Parque da Luz, porque inevitavelmente você precisará caminhar muito após a refeição. Segundo, nada de refrigerante, seria um crime. Vá de vinho ou, como fiz, uma boa e gelada cerveja. Terceiro, embora a torta de maça da casa seja maravilhosa, volte uma quadra e quase na esquina conheça a confeitaria húngara. Claro, quarto, apague tudo da sua agenda, entregue-se, em casa, ao seu travesseiro, dormindo e sonhando com a experiência gastronômica, afinal, você não é de ferro. A soneca é a coroação, a “eternização” do bom momento.

Endereço: Restaurante Acrópolis, rua da Graça, 364, Bom Retiro.