04/12/2013

4a. mensagem de natal


Jardim das Oliveiras
Ciclo do Natal

4a. Mensagem

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:  Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim ...
Isaías 9, 6-7

Federico Barucci, 1590

Estávamos albergados na bucólica varanda, entre plantas e passarinhos, bem no início de uma tarde ensolarada, clima ameno, montanhas ao longo, conversa mansa, arrastada, típica dos nativos das alterosas. Entre nós, sobre a mesa, crocantes torresminhos, sucos, cervejinha e até uma douradinha e sedosa pinga do norte de Minas. Os hilários papos-furados corriam soltos, enquanto esperávamos a preguiçosa lenha queimar devagarinho sob panelas de barro que aconchegavam a especialidade mineira, tesouro de todos os tempos, ponto culminante do nosso encontro, o insuperável frango com ora-pro-nobis e angu.

De repente, um dos comensais disparou: “Em verdade, em verdade eu digo, todo certinho não entra no reino dos céus”, e deu um baita tapa na mesa, elevando alguns milímetros os utensílios.  Gargalhada geral. Cada um tomou sua dose de bebida. O abusadinho virou a pinga, os torresmos acabaram. Pedimos ao garçon calabresa apimentada com cebola e pimenta biquinho. Os ânimos foram dando lugar ao silêncio. Alguém emendou: “Que teologia de botequim é essa, sô ?”

Aquele cabra metralhou-nos. Com a simplicidade característica dos que contemplam montanhas, decodificou sua afirmação.

“Os certinhos são aqueles que sabem tudo. Gostam de acusar, ver defeitos nos outros, corrigir gregos e troianos. Apresentam-se em público, ridiculamente, com a máscara da impecabilidade. São mestres nos versículos e procuram o pódio. Quem não os conhece por dentro, rendem-se por admirá-los.”

Então, em meio ao silêncio dos compadres, ele enfatizou: “Não precisam da Graça de Deus; pecaminosamente, constroem a ilusão da sua própria ideia de graça. Não precisam das misericórdias do Pai Amado, porque os outros é que erram.  Discorrendo a doutrina, são réus confessos; a sisudez explícita da face, a vara verborrágica pronta para ser usada por todos os lados, a impossibilidade de amar sem nada em troca, tudo isso, denuncia a verdadeira raíz. Querem ser deuses, na verdade.”

Olhando nos nossos olhos, numa ousadia que eu nunca vira nele, encetou: “Jesus não disse que viera para os doentes, os perdidos ? Paulo, em meio a lutas e súplicas, não recebeu do Senhor o pedido de dependência dEle (A minha Graça de basta”) ? A palavra forte do evangelho não é arrependimento ?”

Nós, os famintos, pensávamos. De quem ele estaria falando ? 

Estávamos no mês de dezembro, mês de Advento, talvez mês inspirador para o nosso intérprete Bíblico. E ele destrancou o segredo da sua afirmação: “Estava lendo o profeta Isaías, quando deparei-me com um dos nomes do Senhor Jesus: Maravilhoso Conselheiro. Uai, sô, somente encharcado de humildade podemos reconhecer a necessidade de Conselheiro. Somente o Conselho Divino pode restaurar-nos e orientar-nos, afinal, a carne é fraca, o coração do homem é corrupto, e até o apóstolo entendeu que, quando ele era fraco, reconheceria a dependência e conselho de Deus, tornando-se forte, justamente dos conselhos e bênçãos emanadas do Pai. Jesus veio para isso (Advento) e somos os imerecidos agraciados pela bondade incansável dEle.”  

E logo, indo direto ao ponto, entregou-nos a apoteose: “Quem não examina a si mesmo, diante do Deus Santo e Irrepreensível, não tem fome da Graça que desce do céu.”

“Uau!”, sussurrou um. “Grande!, disse outro. “Verdade!”, disse o que bebia suco.

Coincidentemente ou não, os garçons chegaram com as panelas, o perfume dos condimentos preencheram o lugar. 

Não tenho dúvida até hoje, aquele foi um almoço santificado, cheio da graça do Senhor, porque nós, pecadores confessos, degustamos dois banquetes: O Maravilhoso Conselheiro nasceu por e para nós, perdidinhos; e o frango, ai o frango...



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