19/03/2013

Caro Francisco


Não poderia deixar de escrever-lhe. Estamos em festa, embora por motivos diferentes, mas o nosso fundamento é o mesmo e também a finalidade é a mesma. Aqui, por essas bandas, estamos comemorando 51 anos de vida, plantados num jardim com algumas oliveiras. Você, comemorando ou ainda tremendo diante de tanta responsabilidade, já que recebeu a Cadeira caminhando pelas laterais; entrou simples, sem a euforia característica dos homens que habitam as margens do Rio da Prata.

Caro Francisco, confesso que me surpreendi com sua biografia e, principalmente, com suas primeiras palavras, colocando ou trazendo Jesus Cristo para o seu devido lugar.

 Há vales profundos que nos separam desde o século XVI; mas, pela misericórdia e soberania de Deus, podemos construir pontes sobre esses vales, afinal, nosso Cristo é muito, muito maior do que nossas vaidades e miopia crônica. Ah, Francisco, e se enxergássemos como Jesus enxerga ?  Não é comum ao que senta na Cadeira mais prestigiada de sua denominação declarar e enaltecer a cruz de Cristo.  Quando eu o ouvi, sussurrei: Yes!, depois, recompus-me, declarando: Glória a Deus!

Sim, Francisco, devemos ser unidos pela rastro da cruz do Salvador do mundo, Jesus.  Nossa luta não é um contra o outro, não obstante nossas diferenças abissais. Não, nossa luta é contra esse mundo materialista, sincrético, relativista, imoral, frutífero em inversão dos valores judaico/cristãos, criando novos dicionários para novas semânticas, capazes de confundir mentes e corações dos incautos.  Nossa luta, da IPJO e de Roma, é contra os principados e potestades, e contra os “bobos da corte”, os que nem sabem sobre a peleja no andar de cima, ou nem querem acreditar. 

Por isso, caro, assino embaixo quando declarou, fitando os olhos de seus cardeais: “Quando caminhamos sem a cruz, construímos sem a cruz e confessamos um Cristo sem a cruz, não somos discípulos do Senhor. Somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor.” 

Nossa, Francisco, de tanta alegria, quase me dirigi a você com intimidade que não me foi outorgada, chamando-o de Chico, tal a semelhança com o que pregamos aqui, por exemplo, quando, em sua homilia do dia seguinte, após a fumaça branca, citando grande Leon Bloy, “Quem não reza ao Senhor reza ao diabo.”  Oh, Glória! Exatamente isso constitui uma das fraquezas do cardápio mental do homem cristão contemporâneo. Estamos juntos nessa falha: hierarquia católica e protestante.

Sabe, Francisco, meu sonho é ver minha IPJO respirando, exalando um coração misericordioso e evangelizador, em fina sintonia com o Espírito Santo, com fidelidade canina ao Senhor Jesus, vendo, vendo, vendo vidas caindo aos pés da cruz de Cristo: arrependidas, transformadas, regeneradas, justificadas, santificadas.  Este é o tipo de homem que desejo ver aos borbotões.  Você também ?

Hoje, Francisco, os guerreiros do diabo estão em polvorosa, ciscando aqui e acolá, na rua e na Igreja, inventando, procurando agulha no palheiro, ávidos para atacá-lo.  Essa internet pode ser bênção ou maldição, enaltecem ou demonizam na velocidade da luz.

Conheço isso Chi ... ops, Francisco, trata-se de cenas antigas, que se repetem em verso, prosa: nós, pastores, líderes, igreja, estamos sempre no deserto, orando/jejuando e enfrentando as feras.  Mas, a graça do Deus que governa a história, sempre sussurra em nossos ouvidos:  “Nem só de pão o homem viverá, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. Sim, nos desertos e vielas da vida, os verdadeiros filhos sempre escutam: “A minha graça te basta”, “não temas, eu serei contigo.” 

Estamos completando 51 anos, Francisco, e, secundando você, também não queremos ser uma ONG, mas, sim, a humilde, fiel e operante igreja do nosso Senhor Jesus Cristo.  Quem sabe, né, ainda voltaremos a ser arautos do Senhor, forjando uma cultura que honre e serva ao Deus Eterno, como em séculos passados ?

Parabéns para nós! E que sigamos nas pegadas de Jesus, a verdadeira e mais impactante esperança para o mundo.