18/02/2006

Jazz imperdível

Eu gosto no início da noite. Ouço para relaxar, encantar-me com as criações, variações, com a vibração e, tantas vezes, com a alma do executor aflorando, exprimindo seu sentimento mais melancólico, investigativo ou interrogativo. Jazz, já diziam os entendidos, ou melhor, os "chupadores" dessa arte, é a verbalização musical do que está em efervescência nas entranhas do artista. Os jazzistas são poetas da alma.
Pena que muitos foram se perdendo ao longo da estrada, sobretudo as cantoras. Muitas começaram em suas igrejas protestantes, especialmente as batistas ou as classificadas como livres. Cantavam em corais, faziam solos, coisas bem da nossa tradição. Mas, na estrada dos incrédulos, corromperam-se, entregando-se à bebida, drogas e parcerias conjugais múltiplas.

Deixo uma dica imperdível: o encontro de dois virtuoses do jazz. Trata-se do disco
Thelonious Monk Quartet with John Coltrane at Carnegie Hall.

Este encontro dos dois em 1957 fez história. Procurem nas melhores lojas do ramo.

Paz e Alegria para todos.

17/02/2006

Almas Vazias em Brokeback Mountain


“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2,1)

Para qualquer questão da vida, formulamos juízos de acordo com os valores e crenças que dão suporte à nossa visão de mundo (cosmovisão). O demonstrativo cotidiano do mundo ocidental evidencia um total esvaziamento dos valores tão caros à nossa formação. As mudanças rápidas, as avalanches de novas idéias e a pulverização do que críamos, tornam o mundo em que vivemos um terreno fértil para “o que não sabemos em que vai dar.”
Está em curso, desde o início da 2ª metade do século passado, um movimento cultural que solapa nossas caras heranças judaico-cristãs, incutindo de gota em gota, usando todos os recursos de comunicação disponíveis, a crença na pluralidade, no multiculturalismo, no politicamente correto, no acolhimento de qualquer tendência sem a aplicação de critérios. O resultado é que junto com a água do banho, o nenê vai junto para a lama. Vamos acordar ?
Há um filme em cartaz, O Segredo de Brokeback Mountain, (provável ganhador de oscars, não duvide) que é celebrado pela história de “amor” homosexual entre dois caubóis americanos, nos idos dos 60.
Fui ver o filme. Está embutido o movimento (inteligentíssimo) internacional organizado, que atua em todas as frentes, para exportar a causa “natural” do homosexualismo (o mesmo para o filme Tudo Em Família). Tenho o direito inalienável de não ser preconceituoso, e sim conceituoso, e por isso não achar natural, baseado no meu fundamento de vida: a Palavra de Deus (I Co 6,9-10; I Tm 1,10 etc).
Mas na montanha Brokeback eu vi outra coisa. Vi a metáfora do vazio humano, da falência de uma sociedade ocidental que começou cristã e tinha os olhos bem abertos e alegres nos seus valores.
Jack Twist e Ennio Del Mar, dois caubóis destruídos espiritual e emocionalmente, foram contratados para pastorear ovelhas nas montanhas do Wyoming, EUA. Fracassaram profissionalmente, fracassaram existencialmente. Foram sugados pela solidão nas montanhas, palco para a inevitável exposição das vísceras emocionais.
Ali, no vazio do dia, e nas insuportáveis noites, conviviam com o lixo: de suas infâncias, de suas comidas, de seus futuros, e do incômodo daquilo que nem eles sabiam. Eram iguais e solidários no deserto de suas vidas. Juntaram os cacos, porque já não suportavam a própria imagem em qualquer espelho d´água. O ponto revelador do “saara espiritual” revelou-se na total ignorância do significado do Pentecoste cristão. A tradição metodista dos familiares para nada serviu. A falta da religião cava um fosso profundo para o nada.
Não conseguiram ser pastores de ovelhas (elas berravam desprotegidas e eram comidas pelas feras); ao contrário, igualaram-se a elas, e mesmo sem o saber, ansiavam pelos pastores de suas almas.
Não importa se na deslumbrante montanha, se no cabaré mexicano (por onde passou um deles) ou se na sala de estar de uma família ordinária, quando a alma está vazia, está propensa a buscas desesperadas por significado, por alimento que nutra a condição insuportável. Então, agarra-se ao que se encontra. E, para desgraça, pode ser a bebida, a mentira, o auto-engano, a violência que destrói cônjuges inocentes ou o equivoco de um “amor” que não era para ser. Um caubói acabou morto a pauladas. O outro acabou, provavelmente, afogado na bebida, sugado pela angústia, negando os apelos da família para ir à Igreja.
No conto que originou o filme, de Annie Proulx, o caubói diz que eles “teriam que agüentar o que não podiam consertar”. Ledo engano, e aqui entra a leitura cristã: nada é impossível para Deus. A condição de nascer de novo (espiritualmente) é o verdadeiro encontro para o qual todos nós nascemos: glória de Deus e satisfação pessoal.
Devemos assistir O Segredo de Brokeback Mountain ? Sim, para acrescentar ao seu entendimento que o vazio que habita o coração humano não escolhe paisagem, está presente na paradisíaca montanha ou na miséria de algum barraco. O mundo pode não suportar tal entendimento, tal enfrentamento, mas o vazio só terminará quando JESUS subir a montanha Brokeback, indo ao encontro das ovelhas sem pastor.