Jardim das Oliveiras
Ciclo do Natal
3a. Mensagem
Portanto,
o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho e lhe chamará Emmanuel.
Is 7, 14
Nicolas Poussin
Sentadinho no degrau da loja, sem
incomodar, indiferente às “formiguinhas humanas”, que passavam apressadas, o
menino, talvez com 7 anos, vendia panos para limpeza doméstica. Como os outros transeuntes, passei, subindo a
rua, apressado, mas a cena capturou-me, laçou-me, enredou-me. Adiante, minha
memória recentíssima espetava-me e já não podia pensar em outra coisa. A face
doce, frágil, pequena e necessitada do infante latejava em minha mente,
incomodando-me. Não durou minutos, tomou-me, avassaladoramente, sem pedir
licença, as recordações do menino Jesus. Decidi que, quando voltasse pela mesma
calçada, não evitaria a face do Senhor, estampada no mirradinho.
***
Encostada
no muro do colégio, cuja mensalidade ultrapassa a média salarial do país, beirando
os 14 anos, vociferava palavrões, entre tragadas da maldita fumaça tabagiana. A
falsa imagem era de poder e liderança. Passei os olhos sobre o grupo, fixei-os
sobre a criança precoce e com nitidez discerni a evidente fragilidade.
Batizei-a, silenciosamente, com o nome de Carência da Silva.
***
Dois
dias distintos, duas crianças com histórias opostas, duas iniciantes vidas sob
a mesma perspectiva Bíblica: pobre ou rico, carecem da presença de Deus.
Então,
a conclusão rodeou-me: toda a criança nasce à imagem e semelhança de Deus. Deveriam
ser acariciadas por Deus. A jornada dos pequeninos deveria ser pavimentada de
oportunidades para conhecer o Criador.
Talvez
por isso que o profeta entregou ao mundo a vontade do Pai: O nome do meu Filho
será Emanuel – que significa Deus Conosco.
Sabemos,
aceitamos, cremos, não duvidamos, mas a endêmica doença chamada indiferença
teima em nos possuir. Como
vírus/bactéria oportunista, aloja-se em nosso ser, resistindo e fortalecendo-se
por meio de mutações. Mas os meninos
estão lá, nas ruas, escolas, residências, redes sociais, parques e também nos
lugares mais podres, seja nos barracos ou nas suítes.
Proponho
um exercício: nesta natal, olhe para cada criança, batizando-a silenciosamente
em seu coração com o nome (ou apelido) de Emanuel – Deus conosco. Afinal,
estamos aqui para isso, não ?
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