05/01/2009

Israel-Hamas 3

O texto é longo para os propósitos de um blog, mas vale a pena. Leia-o com atenção. Abaixo, com exatidão, contém a maior parte do problema.
Recomendo o livro do autor: Em Defesa de Israel, da editora Nobel. Indico, também, o excelente livro Mitos e Fatos. A Verdade sobre o conflito árabe-israelense, de Mitchell G.Bard, ed. Sêfer.


Ação militar israelense é legítima

Alan M. Dershowitz*


A ação militar israelense em Gaza é totalmente justificada de acordo com o direito internacional, e Israel deveria ser elogiado por seus atos de defesa contra o terrorismo internacional. O Artigo 51 da Carta da ONU reserva às nações o direito de agir em defesa própria contra ataques armados. A única limitação é a obediência ao princípio de proporcionalidade. As ações de Israel certamente atendem a esse princípio.

Quando Barack Obama visitou a cidade de Sderot no ano passado viu as mesmas coisas que eu vi em minha visita de março. Nos últimos quatro anos, terroristas palestinos dispararam mais de 2 mil foguetes contra essa área civil, na qual moram, na maior parte, pessoas pobres e trabalhadores.

Os foguetes destinam-se a fazer o máximo de vítimas civis. Alguns por pouco não acertaram pátios de escolas, creches e hospitais, mas outros atingiram seus alvos, matando mais de uma dúzia de civis desde 2001. Esses foguetes lançados contra alvos civis também feriram e traumatizaram inúmeras crianças.

Os habitantes de Sderot têm 15 segundos, desde o lançamento de um foguete, para correrem até um abrigo. A regra é que todo mundo esteja sempre a 15 segundos de um abrigo. Os abrigos estão em toda parte, mas idosos e pessoas com deficiências muitas vezes têm dificuldade para se proteger. Além disso, o sistema de alarme nem sempre funciona.

Disparar foguetes contra áreas densamente povoadas é a tática mais recente na guerra entre os terroristas que gostam da morte e as democracias que amam a vida. Os terroristas aprenderam a explorar a moralidade das democracias contra os que não querem matar civis, até mesmo civis inimigos.

Em um incidente recente, a inteligência israelense soube que uma casa particular estava sendo usada para a produção de foguetes. Tratava-se evidentemente de alvo militar. Mas na casa morava também uma família. Os militares israelenses telefonaram, então, para o proprietário da casa para informá-lo de que ela constituía um alvo militar e deram-lhe 30 minutos para que a família saísse. O proprietário chamou o Hamas, que imediatamente mandou dezenas de mães com crianças no colo ocupar o telhado da casa.

Nos últimos meses, vigorou um frágil cessar-fogo mediado pelo Egito. O Hamas concordou em parar com os foguetes e Israel aceitou suspender as ações militares contra os terroristas. Era um cessar-fogo dúbio e legalmente assimétrico.

Na realidade, era como se Israel dissesse ao Hamas: se vocês pararem com seus crimes de guerra matando civis inocentes, nós suspenderemos todas as ações militares legítimas e deixaremos de matar seus terroristas. Durante o cessar-fogo, Israel reservou-se o direito de empreender ações de autodefesa, como atacar terroristas que disparassem foguetes.

Pouco antes do início das hostilidades, Israel apresentou ao Hamas um incentivo e uma punição. Israel reabriu os postos de controle que haviam sido fechados depois que Gaza começou a lançar os foguetes, para permitir a entrada da ajuda humanitária. Mas o primeiro-ministro de Israel também fez uma última e dura advertência ao Hamas: se não parasse com os foguetes, haveria uma resposta militar em escala total.

Os foguetes do Hamas não pararam, e Israel manteve sua palavra, deflagrando um ataque aéreo cuidadosamente preparado contra alvos do Hamas.Houve duas reações internacionais diferentes e equivocadas à ação militar israelense. Como era previsível, Irã, Hamas e outros que costumam atacar Israel argumentaram que os ataques do Hamas contra civis israelenses são totalmente legítimos e os contra-ataques israelenses são crimes de guerra. Igualmente prevista foi a resposta da ONU, da União Europeia, da Rússia e de outros países que, quando se trata de Israel, veem uma equivalência moral e legítima entre os terroristas que atingem civis e uma democracia que responde alvejando terroristas.

A mais perigosa dessas duas respostas não é o absurdo alegado por Irã e Hamas, em grande parte ignorado pelas pessoas racionais, e sim a resposta da ONU e da União Europeia, que coloca em pé de igualdade o assassinato premeditado de civis e a legítima defesa. Essa falsa equivalência moral só encoraja os terroristas a persistir em suas ações ilegítimas contra a população civil.

PROPORCIONALIDADE

Alguns afirmam que Israel violou o princípio da proporcionalidade matando um número muito maior de terroristas do Hamas do que o de civis israelenses vitimados. Mas esse é um emprego equivocado do conceito de proporcionalidade, pelo menos por duas razões. Em primeiro lugar, não há equivalência legal entre a matança deliberada de civis inocentes e a matança deliberada de combatentes do Hamas. Segundo as leis da guerra, para impedir a morte de um único civil , é permitido eliminar qualquer número de combatentes. Em segundo lugar, a proporcionalidade não pode ser medida pelo número de civis mortos, mas pelo risco de morte de civis e pelas intenções dos que têm em sua mira esses civis. O Hamas procura matar o maior número possível de civis e aponta seus foguetes na direção de escolas, hospitais, playgrounds. O fato de que não tenha eliminado tantos quanto gostaria deve-se à enorme quantidade de recursos que Israel destinou para construir abrigos e sistemas de alarme. O Hamas recusa-se a construir abrigos, exatamente porque quer que Israel mate o maior número possível de civis palestinos, ainda que inadvertidamente.

Enquanto ONU e o restante da comunidade internacional não reconhecerem que o Hamas está cometendo três crimes de guerra - disparando contra civis israelenses, usando civis como escudos e buscando a destruição de um país membro da ONU - e Israel age em legítima defesa e por necessidade militar, o conflito continuará.

Se Israel conseguir destruir a organização terrorista Hamas, poderá lançar os alicerces de uma verdadeira paz com a Autoridade Palestina. Mas se o Hamas se obstinar a tomar como alvo cidadãos israelenses, Israel não terá outra opção senão persistir em suas operações de defesa. Nenhuma outra democracia do mundo agiria de maneira diferente.

*Alan Morton Dershowitz é advogado, jurista e professor da Universidade Harvard

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo, 5 de janeiro de 2009

4 comentários:

Penfield Espinosa disse...

Prezado Pastor,

um pequeno detalhe: Dershowitz é uma pessoa extraordinariamente polêmica nos EUA e muitas pessoas de boa fé tem levantado dúvidas sobre as boas intenções dele.

Os pontos levantados sobre o fato do Hamas não ser exatamente um
ninho de anjos são, como é claro, relevantes.

Os argumentos contra o critério de proporcionalidade entre as dezenas de mortes do Hamas e as centenas de mortes causadas por Israel são questionáveis, para dizer o mínimo.

Toda a questão entre Israel e os palestinos é muito delicada e o artigo está muito longe de contemplar com serenidade e isenção esse problema onde, em todos da raça humana, não há anjos.

Sinceramente,
Penfield

Anônimo disse...

Caro ou cara Penfield, meu propósito é examinar a história, colher os fatos reais, colocar a questão no seu devido lugar, recuperar a linha da tradição judaico-cristã, produzir a crítica honesta, orientar aqueles que desejam e confiam, criticar os dois lados, quando for o caso.
Leia o livro indicado, indique-me os erros.
Reuna, em linha histórica, tudo sobre o caso. Aplique a perspectiva judaico-cristã, ainda que nela haja muitos casos de erros.
Por fim, agradeço sinceramente seu comentário. Estamos aqui para isso, para lançar luz sobre os debates relevantes de nossa época.
Forte abraço.
Mauro

Penfield Espinosa disse...

Prezado Pastor,

tenho certeza de sua honestidade e, sinceramente, penso q seu ponto de vista, de procurar o equilíbrio entre versões tão radicalmente polarizadas, é o único possível para pessoas bem intencionadas.

Seu conselho com certeza é mto interessante e mais do q desafiador: escrever um livro sobre essa questão polêmica q faz agitar o sangue daqueles q, assim como eu, gostam de discutir idéias.

Por ora, contudo, recomendarei dois links. Um o do livro de um autor com mais ou menos o mesmo perfil de Dershowitz, chamado Finkelstein.

Ambos são de origem judaica, fortemente ligada à religião (judaica ortodoxa nos dois casos) e com experiência de sofrimento nos terríveis campos de concentração nazista.

Dada esta semelhança inicial, tudo neles os diferencia. Ao passo q Dershowitz tem uma visão fortemente favorável ao atual governo israelense (q se diferencia do povo israelense e tb da tradição judaica), Finkelstein tem outra visão q, sem deixar de lado a bela e rica cultura judaica e o povo israelense, parece mais generosa, pois tb se compadece dos palestinos, anteriormente ocupantes das terras onde está Israel atualmente.

Os links são:
1) The Dershowitz Treatment
http://www.counterpunch.org/finkelstein12292006.html

2) Dershowitz: Torture could be justified
http://edition.cnn.com/2003/LAW/03/03/cnna.Dershowitz/

A biografia de Finkelstein está na Wikipedia em inglês. Assim como a de Dershowitz.

Abraços,
Penfield

P.S.: meu nome completo é José Carlos Penfield da Costa Espinosa. Sou de família baiana de Salvador. Como aqui em S. Paulo encontrei algumas pessoas q insistiam q meu nome tem tom pomposo, terminei por abreviá-lo como Penfield Espinosa.

Penfield Espinosa disse...

P.S.: em tempo, Finkelstein faz uma análise bastante interessante de um livro de Dershowitz, tb através de um livro.

Qto àquele q o sr sugere, parece mto interessante. A editora Sêfer (nome judaico para Espanha, se não me engano) é bastante respeitável e com certeza será leitura proveitosa.

Meus conhecimentos sobre o tema são muito limitados e, com certeza, terei q cotejá-lo com outros livros, de outras fontes.