06/01/2009

Israel-Hamas 6




Tínhamos um programa na Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte que incentivava o debate entre Igreja e Sociedade, chamado Papo na Segunda. Certa vez, lá estavam dois debatedores falando sobre palestina, Israel etc. Muita propaganda, e enganosa.
Semanas depois, eu estava na PUC debantendo com um deles sobre paz no oriente médio. Quando mencionei o absurdo da negativa de Arafat diante dos oferecimentos de Ehud Barak para que houvesse a paz definitiva, o debatedor enfureceu-se, dizendo que tudo aquilo, mediado por Bill Clinton, era mentira. A mentira estampada em todas as mídias do mundo. Somente uma mente pervertida poderia afirmar aquilo. Camp David, 2000 (foto), onde Clinton e Barak fizeram de tudo para alcançar a paz e a solução definitiva, foi para o ralo.

Pois bem, abaixo está um excelente e correto texto do jornalista Reinaldo Azevedo. Leiam com atenção:

IRONIA TRÁGICA

Não deixa de ser irônico — e trágico — que o ministro da Defesa de Israel seja Ehud Barak, que foi primeiro-ministro entre 17 de maio de 1999 e 7 de março de 2001. Por que digo isso? De todos os governantes israelenses, foi ele quem mais se mostrou disposto a fazer concessões para pôr fim ao conflito.

Acreditem — na verdade, pesquisem: Barak ofereceu ao então líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, quase tudo o que ele pedira no encontro de Camp David, em 2000, e isso incluía a devolução de 90% dos chamados territórios ocupados. Não entregava Jerusalém ao controle palestino, mas garantia a autonomia da parte árabe da cidade. O plano incluía a volta dos “refugiados”? Não! Já tratei desse assunto aqui. Não creio que essa seja uma reivindicação de quem pretende a convivência pacífica de dois estados. De todo modo, acenava-se com uma espécie de foro permanente de resolução de conflitos. Em vez do terrorismo e do confronto armado, Barak propunha, vejam só, a política como forma de resolver as
diferenças.

Arafat hesitou, mas preferiu recusar a proposta e apoiar a segunda intifada, que acabou por derrubar Ehud Barak — intifada que acabou por dar força ao Hamas, que havia surgido pouco antes, em 1987, e que vem solapando, dia após dia, a força da Fatah, o grupo ao qual pertencia Arafat. Ao lado do sectarismo anti-Israel, o Hamas optou pelo assistencialismo e pelo combate à corrupção, marca registrada de Arafat e sua turma.

Por que Barak caiu? Porque teve como resposta ao mais ousado plano de paz jamais apresentado por um governo israelense o levante palestino. Foi sucedido pelo então ultra-direitista (na particular geografia política de Israel) Ariel Sharon. O mundo esperou o pior. E Sharon, no entanto, surpreendeu. Foi ele quem operou a desocupação total de Gaza. Mais: mudou o status da política israelense, renunciando à presidência do Likud, dissolvendo o Parlamento e formando um novo partido, de centro, o Kadima. Sharon parecia realmente disposto a levar adiante um processo de concessões que resultasse na criação do estado palestino. E tinha liderança política para isso. Mas aí a tragédia: um segundo derrame, no dia 4 de janeiro de 2006, levou-o ao coma, em que se encontra até hoje. E aí foi a vez de Israel entrar numa espécie de fase anêmica de líderes.

Mas volto ao ponto. Barak quase conseguiu o acordo, não fosse a estupidez de Arafat. O velho líder, treinado no terrorismo, que muitos tomavam como “resistência”, deve ter temido não encontrar o seu lugar na política. Teria certamente de esmagar os insurgentes de sua própria base. Em 2000, isso ainda era possível. Hoje, o Hamas é que esmagou a Fatah na Faixa de Gaza. Os palestinos pagam um preço altíssimo pela bobagem feita por Arafat. E o homem que comanda a reação de Israel, que é o país agredido, é aquele que chegou mais longe no esforço de paz. Esforço que custou a sua deposição.


Extraído do blog: www.reinaldoazevedo.com.br

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