10/04/2013

Além do Horizonte






Sou fã do Salmo 116, 12: “Que darei ao Senhor por todos os benefícios para comigo ?” O salmista, neste versículo, condensa as riquezas oriundas de Deus. Poucas palavras, e um oceano de atributos divinos distributivos. A pergunta do poeta embute experiências de percalços passados. Seus olhos fitam o horizonte, encontram a evidência do Provedor Incondicional, o mesmo que respondera nas horas mais agudas de aflição (“Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.” Sl 121,1-2)

Somente uma pessoa penetrada pela mais absoluta sinceridade, reconhecedora das misericórdias divinas, ora imanentes, ora transcendentes, extrai de suas entranhas o verbo que traduz e revela a graça e visitação do Senhor: Que darei ? Que darei ? Onde encontrarei objeto, palavra, sentimento, gratidão, gesto que seja oferenda minimamente compatível  com as bênçãos ?  O quê ? O quê ?

A questão é:  Se parássemos um pouco, se diminuíssemos o pique, o ritmo, se déssemos chance ao cruzamento da inteligência com a emoção, se ao menos olhássemos e recordássemos com cuidado, seríamos revestidos de constrangimento e uma porta se nos abriria para enxergar a realidade. Descortinaria diante de nossos olhos o quadro completo: Ele é Deus!, está presente, atuando, cuidando, protegendo, avisando, aconselhando, exortando, advertindo, abençoando e ... amando, amando, amando muito.

Gratos são os que vazam da razão para o coração, entendem e derivam para todo o ser o preenchimento de Deus (“Amar a Deus de todo entendimento, alma e coração”. Mt 22, 37).   Somente ali, no centro figurado e representativo de todo o nosso ser, repousa a usina que nos recarrega cotidianamente de oferenda, de ações de graça. Somente o coração grato, testemunha da presença do Senhor, somente aquele que tem algo denso para contar pode doar, entregar, depositar, desapegar, ofertar, depositar tudo no altar; conforme rezam os hinos “Eu venho como estou” e “Tudo deixarei, tudo entregarei”. 

Quando o salmista diz: “Que darei ... ?”, significa que já decidiu, entendeu tudo - que tudo não lhe pertence.  Quem é o dono de tudo ? O Senhor Deus.  Se o Senhor é o dono, não há apego mesquinho. O salmista estava livre, leve e solto para desejar doar, oferecer, ofertar, para declarar que era um agraciado, abençoado, que jamais esteve só.

Esse é o status da pessoa mais livre da face da terra.  A que conta, confia, depende e anda com Deus.

Os olhos do salmista alcançam além do horizonte, suas mãos não precisam agarrar o que quer que seja. Insegurança é palavra banida do dicionário existencial pessoal, porque o Senhor habita, reina, governa e sustenta.  

E você, o que dará ?